terça-feira, setembro 26, 2006

"USP é templo da vigarice", diz Olavo

Polemista relança "O Imbecil Coletivo", ataca intelectuais paulistas e culpa EUA pela “proliferação de tipinhos como Lula”.

Para autor, quem ainda tem fibra para ser conservador está fora da política, seja por falta de vocação, seja por uma questão de higiene.


MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA

Reunião de textos do jornalista, filósofo e polemista Olavo de Carvalho, "O Imbecil Coletivo" está sendo relançado. É o primeiro de um conjunto de três volumes que o autor pretende editar. O livro, que completa dez anos, ataca o pensamento de esquerda que seria hegemônico no meio cultural do país e, sem torneios, sustenta argumentos conservadores ou de direita. Desde 2005, Olavo mora nos EUA, em Richmond, perto de Washington. Nesta entrevista, feita por e-mail, ele dispara contra intelectuais da USP, considera que os tucanos são responsáveis pela ascensão do petismo e diz que também existe um imbecil coletivo direitista.

FOLHA - Como o sr. avalia o discurso de alguns intelectuais históricos do PT, como a filósofa Marilena Chauí, que procura relativizar a questão ética na política? O mesmo tema, de certa forma, havia sido proposto pelo filósofo tucano José Arthur Giannotti.

OLAVO DE CARVALHO - Quando essa gangue uspiana começou a "campanha pela ética na política", uma década e meia atrás, já anunciei que era tudo uma empulhação destinada a entregar o poder total à esquerda, usando e prostituindo a indignação moral do povo com os miúdos corruptos da época para encobrir a montagem da maior máquina de corrupção de todos os tempos.

Os tucanos estão hoje com choradeira, mas eles são amplamente culpados pela ascensão do petismo, do qual foram cúmplices na "estratégia das tesouras" calculada para suprimir da política todas as demais correntes e dividir o bolo entre os dois partidos nascidos da USP. O que quer que venha da boca de Chauis e Giannottis é sempre camuflagem, pose, hipocrisia.

Essa gente já deveria estar embalsamada faz muito tempo em alguma espécie de IML intelectual. Cansei de ouvir besteira. "Intelectual de esquerda", seja tucano, petista ou qualquer outra porcaria, tem para mim a confiabilidade de uma nota de R$ 32.

A USP sempre foi o templo da vigarice intelectual, e o sujeito que começa com safadeza no campo das idéias acaba sempre inventando algum mensalão para se remunerar do esforço de embrulhar a platéia. Os tucanos ainda podem se redimir do mal que fizeram. A carta de 7 de setembro do ex-presidente Fernando Henrique é um bom começo, mas é preciso um arrependimento mais fundo e uma tomada de posição mais clara.

Não adianta querer um "choque de capitalismo" quando ao mesmo tempo se cortejam "movimentos sociais" cujos programas "politicamente corretos" exigem sempre maior controle estatal da sociedade. Um capitalismo assim acaba virando capitalismo chinês.

FOLHA - O governo Lula é de direita ou de esquerda? Quais são no seu entender os traços que distinguem, hoje, esquerda e direita?

CARVALHO - Esquerda é toda corrente que legitima suas pretensões ambiciosas em nome de um futuro hipotético. Direita é quem legitima promessas modestas com base na experiência passada. No Brasil, só quem tem alguma experiência bem-sucedida para ensinar são os remanescentes do governo Médici que fizeram o país crescer 15% ao ano. Estão todos nonagenários ou irrevogavelmente falecidos. Como ninguém absorveu sua lição, não há mais direita no Brasil. Há apenas diferentes graus de esquerdismo, desde o histerismo fanfarrão do PSOL até as afetações oportunistas de políticos ideologicamente inócuos que acham bonito posar de politicamente corretos, como esse ridículo governador de São Paulo. Direita, conservadorismo genuíno, é a síntese inseparável dos seguintes elementos: liberdade de mercado, valores judaico-cristãos, cultura clássica, democracia parlamentar e império das leis.

No Brasil, quem ainda tem fibra para ser conservador está fora da política, seja por falta de vocação, seja por uma questão de higiene. O Brasil ainda tem alguns bons líderes empresariais e estudiosos de campos diversos, e acho um sacrifício admirável, mas inútil, que homens bons larguem suas ocupações produtivas para arriscar a sorte numa política eleitoral que virou uma disputa interna no galinheiro esquerdista - cada galinha, é claro, chamando as outras daquilo que no seu entender é a pior das ofensas: "Direitistas!"

FOLHA - O pensamento de direita ganha fôlego no mundo contemporâneo. Nesse contexto, podemos falar na emergência de um imbecil coletivo de direita?

CARVALHO - Sem a menor sombra de dúvida. O triunfalismo capitalista subseqüente à queda da URSS produziu bibliotecas inteiras de utopismo tecnocrático-financeiro globalista que o 11 de Setembro reduziu a pó, mas do qual muitos cérebros de fantasmas ainda se alimentam nos EUA. A marca inconfundível do imbecil coletivo direitista é a negação de que existam direita e esquerda. O típico doutrinário dessa corrente se coloca numa torre de marfim supra-ideológica, de onde acredita que pode resolver tudo na base da grana. A impotência sempre gera o delírio de onipotência. Praticamente toda a política externa americana da última década e meia se baseou nessa estupidez, e o resultado dela é a proliferação de tipinhos como Lula, Chávez, Morales e "tutti quanti".

FOLHA - Como o sr. avalia a declaração do papa sobre o Islã e as reações contrárias? O sr. crê em algo como "choque de civilizações?"

CARVALHO - Dizem que há um conflito entre o Islã e o Ocidente. Mas qual Ocidente? O Ocidente religioso, judaico-cristão, ou o Ocidente revolucionário, ateu, materialista? Este último está obviamente do lado dos terroristas, e é ele mesmo quem alardeia o slogan do "conflito de civilizações" para camuflar a guerra de vida e morte que, por meios diversos e aparentemente inconexos, se move contra os judeus e os cristãos no Islã, nos países comunistas e no próprio Ocidente capitalista.

O número de cristãos inocentes e desarmados que vêm sendo assassinados no Sudão, no Vietnã, na Coréia do Norte e na China é cem vezes maior do que a quantidade de vítimas civis da Guerra do Iraque, e a mídia chique inteira, incluindo este jornal, não diz uma palavra contra isso. Nem noticia. Ao mesmo tempo, leis draconianas para suprimir a liberdade de expressão religiosa são adotadas na Europa e nos EUA, mas jamais aplicadas aos muçulmanos locais. É esse o "Ocidente" que se pretende defender contra o Islã? Tudo isso é de uma falsidade monstruosa. Não há uma guerra de civilizações, mas duas guerras superpostas, uma do Islã contra o globalismo ocidental, outra de ambos (e da esquerda internacional) contra a civilização judaico-cristã.

FOLHA - E quanto ao papa?

CARVALHO - O discurso em Regensburg, não foi sobre o Islã. Este foi mencionado como gancho para a questão central, que era a necessidade de uma teologia racional, já mil vezes reiterada pela Igreja. As afirmações do imperador Manuel 2º, o Paleólogo, citadas no discurso foram três: 1) O Islã adotou a violência como método legítimo de conversão. 2) Essa foi a única novidade religiosa trazida pelo Islã. 3) Converter por meio da violência é errado: a conversão deve-se alcançar por meio da persuasão racional.

A terceira afirmativa é analisada extensamente no restante do discurso. As duas primeiras foram citadas de passagem só para mostrar o contexto histórico da discussão e em seguida deixadas de lado. Ao concentrar seus ataques numa delas, os críticos muçulmanos e os não-muçulmanos anticristãos mostraram incapacidade ou falta de disposição de distinguir entre a menção casual à fala de um terceiro e a opinião formalmente expressa do orador. São burros, desonestos ou ambas as coisas.

Mas o papa também não foi muito hábil nas explicações que deu para acalmar os nervosinhos. Ao dizer que a citação de Manuel 2º não expressa sua opinião pessoal, ele deixou uma perigosa ambigüidade no ar, pois as três asserções formais contidas nessa citação são totalmente independentes entre si, e não é possível que Bento 16 concorde ou discorde das três uniformemente.

A primeira é simples expressão de um fato universalmente reconhecido, e o papa, mesmo que não estivesse interessado em tomá-la como tema do seu discurso, como de fato não tomou, não poderia discordar dela de maneira alguma.

A segunda, na mesma medida, é totalmente falsa. O Islã trouxe uma infinidade de inovações, entre as quais a mais espetacular de todas é ser o primeiro e único direito penal religioso destinado a aplicar-se à humanidade inteira e não só a uma nação em particular. Isso constitui a diferença específica do Islã, e sem isso a sua pretensão de ser uma revelação nova e autônoma perderia o seu argumento mais forte.

A terceira é o simples resumo de uma doutrina tradicional da Igreja, e o papa não poderia discordar dela. Em suma, Bento 16 só pode e aliás deve estar em discordância com Manuel 2º quanto à segunda afirmação, um erro histórico perdoável na Idade Média, mas que hoje em dia seria intolerável mesmo num estudante. O único ponto do discurso papal que poderia ferir a honra dos muçulmanos é um erro que o orador não endossou nem poderia ter endossado, sendo o erudito que é.

terça-feira, agosto 22, 2006

Povo ou plebe?

Comentário ao artigo "Povo ou plebe?"

"De tanto ver triunfar as nulidades;

De tanto ver prosperar a desonra;

De tanto ver crescer a injustiça;

De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus;

O homem chega a desanimar da virtude;

A rir-se da honra;

A ter vergonha de ser honesto."

(Rui Barbosa)

Muito lemos de leitores incautos e arrogantes, e nesse caso me refiro aos católicos (ou pelo menos que se dizem católicos), mensagens enviadas ao site Veritatis Splendor nos acusando e condenando por fazer propaganda partidária anti-PT.

Mas se atacar com veemência este partido, que é a cabeça da serpente anticatólica, nos traz conflito, então, com muita alegria e júbilo atacaremos, não somente o PT, mas todo e qualquer movimento de heresias tais como o protestantismo, o liberalismo, o marxismo e tanto outros ismos, que, com suas incoerências e contradições filosóficas, somente trazem desgraças ao mundo. Observemos o caso da França decadente e apóstata e seu Fraternité, Egalité, Liberté, e da famigerada Teologia da Libertação do Padre Jean Bertrand Aristide, que destruiu os filhos do Haiti, a ponto de a República Dominicana fechar suas fronteiras com esse país.


"Não julgueis que vim trazer a paz à terra.

Vim trazer não a paz, mas a espada".

(Evangelho segundo São Mateus 10,34)


Com muita alegria combateremos o bom combate. Porque...


"E ainda mesmo que a morte nos caiba;

Saberemos com honra morrer".

(Hino da Polícia Militar do Distrito Federal)

A arrogância é tal destes católicos-comunistas que mal sabem na grande tolice que incorrem ao querer conciliar a doutrina da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo e a seita comunista.

Não condenamos o ato de condenar, afinal essa é outra grande tolice. Se o ato de condenar, em si, é um ato condenável, então ninguém pode condenar aquele que condena.

"Não julgueis pela aparência;

Mas julgai conforme a justiça".

(Evangelho segundo São João 7,24)

"O homem espiritual, ao contrário, julga todas as coisas;

E não é julgado por ninguém".

(IIª Epístola de São Paulo aos Coríntios 2,15)

"Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar;

Na malícia, sim, sede crianças;

Mas quanto ao julgamento, sede homens".

(Iª Epístola de São Paulo aos Coríntios 14,20)


Condenam-nos por condenar o PT (coloquem no mesmo saco o PSDB e o PFL, além do PSol, PSTU, etc...), mas, a arrogância e a auto-suficiência os cegam para as inúmeras condenações da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo à perversidade da doutrina comunista. E se são católicos, deveriam ser crianças na malícia e homens no julgamento como diz São Paulo.


Tão grave quanto, são aqueles indiferentes que, adotando uma postura neutra quanto à guerra contra a teologia da libertação, acham portar-se conforme os ensinamentos de Nosso Senhor, revelados por seus Santos Apóstolos da Igreja Católica.


"Quem não está comigo está contra mim;

E quem não ajunta comigo, espalha".

(Evangelho segundo São Mateus 12,30; e segundo São Lucas 11,23)


Estão iludidos pelo relativismo moral das mesmas doutrinas que influenciaram a revolução cultural gramsciniana marxista que confunde bem e mau, justo e injusto, vício e virtude. Por conseguinte, neutralidade em relação a Nosso Senhor; é o mesmo que militar no exército de Judas Iscariotes, o traidor.


Essa crise política por que passou o país no ano de 2005 tem como fundamento justamente esse relativismo moral. Os que viveram o período histórico que se iniciou em 31 de março de 1964 sabem muito bem que estes que agora agigantaram o poder em suas mãos, durante a luta armada comunista no Brasil (e na América Latina) não dispunham de qualquer escrúpulo para cometer qualquer delito, sob a capa eufemística de justiçamento, quando matavam os inimigos do comunismo e expropriação, quando roubavam, mas negavam o ato criminoso sob a desculpa mais esfarrapada de que estavam confiscando em nome da revolução marxista.


De onde saiu essa idéia perversa de que os fins justificam os meios? Os anarquistas asseveram que a propriedade privada é um roubo e assim tornam lícitos os atentados terroristas do MST às propriedades daqueles que trabalham, produzem, geram renda e emprego. Sem contar os inúmeros assassinatos de fazendeiros e policiais. Será isso lícito em nome da revolução comunista?


Perguntar não ofende: seria moralmente aceito desviar dinheiro público em prol da implantação do famigerado regime comunista, algoz do povo cubano pelo criminoso Fidel Castro?


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que a "ética do PT é roubar". Temos de concordar com o ilustre doutor e ex-presidente, no entanto, como se trata de conhecido estadista de um partido também marxista, o PSDB; é preciso admitir que ele está "jogando a poeira para debaixo do tapete" e assim aproveitar o protagonismo do Partido dos Trabalhadores no cenário atual para atacá-lo.


Como não culpar o antropocentrismo renascentista e protestante, o liberalismo franco-revolucionário e o marxismo por essa crise moral, se eles deslocaram, paulatinamente, a referência absoluta de Moral e Justiça de Nosso Senhor Jesus Cristo para o homem, com seu estado destituído da graça santificante de Deus?


"Não há nenhum justo;

Não há sequer um".

(Epístola de São Paulo aos Romanos 3,10)

"... com efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus,"

(Epístola de São Paulo aos Romanos 3,23)


Fazemos um pequeno parêntese para elucidar que quando São Paulo, Bispo e Apóstolo da Igreja Católica, afirmou que todos pecaram e não havia um justo sequer, ele se referia ao pecado original, com o qual todo ser humano nasce, claro isso trata de uma regra factual, não uma regra moral propriamente dita, isso significa que há exceções. A primeira delas é Nosso Senhor Jesus Cristo, a segunda, é Nossa Senhora que, conforme ensina a Igreja de Cristo, nasceu sem pecado original, por que este fora apagado com os efeitos futuros dos méritos da morte de Nosso Senhor na cruz.


Introduziram a idéia da democracia plena como única forma de governo legítima, afrontando assim o Magistério da Santa Madre Igreja de Cristo, que ensina, sob a pena de Leão XIII, serem legítimas todas as formas de governo, Monarquia, Aristocracia, Democracia, desde que promovam o bem comum e a moral, dentre outros valores igualmente tão caros. O que esperar de uma democracia onde o povo tem vergonha de ser honesto?


A Professora e Socióloga Maria Lúcia Victor Barbosa no seu artigo "Povo ou plebe?", nos mostra como as palavras do estadista Rui Barbosa "O homem chega a desanimar da virtude; a rir-se da honra; a ter vergonha de ser honesto", bem se aplica ao povo brasileiro.


A argumentação abaixo é de uma socióloga, uma cientista estranha às ciências teológicas. E apenas ajudam a desmascarar a tese do materialismo histórico, que já mancava desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos E.U.A.


Esse materialismo, inerente ao pensamento marxista, apregoa, por exemplo, a tese de que a causa da criminalidade é a pobreza. Como se não existisse o crime do colarinho branco, cometido, inclusive pelos maiores sequazes de Karl Marx.


Em suma, a crise que afeta o mundo é, mais do que qualquer outro aspecto, uma crise moral. Uma confusão de valores, que debilitou o juízo de muitos para distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o moral do imoral. Rui Barbosa lamentava a vergonha de ser honesto; se encontrasse o mundo hoje, lamentaria a vergonha de ser sábio o suficiente para saber quais são os valores prezados por um homem verdadeiramente honesto.


Aos católicos que acreditam na tolice da teologia da libertação, saibam que o primeiro socialista nas fileiras da Igreja Católica Apostólica Romana, foi Judas Iscariotes, o traidor, que, assim como os comunistas de hoje, fingia se preocupar com os pobres, mas apenas para "expropriar" dinheiro alheio em nome da sua "ética".


"Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do bálsamo.

Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair, disse:

Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?

Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam.

Jesus disse: Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha sepultura.

Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me tereis."

(Evangelho segundo São João 12,3-8)


POVO OU PLEBE?

Maria Lúcia Victor Barbosa

Como é comum em ano de eleições, curiosas teorias vão surgindo para justificar ou não essa ou aquela candidatura. Assim, na medida em que se volta a cogitar sobre a possibilidade da reeleição do candidato-presidente que parecia perdida no fundo do poço dos escândalos de corrupção, sua possível vitória é prevista quando se diz, por exemplo: "ele ganha porque é a cara do povo".


Esta idéia nada mais é do que a repetição do que disse o próprio Luiz Inácio em um de seus mais recentes comícios, pois ele se vangloriou de ter a cara do povo e não das pessoas da zona sul ou da Avenida Paulista.


Naturalmente escapa ao presidente da República e aos que o imitam, que povo significa o conjunto dos indivíduos que habitam um determinado território nacional, sem distinção de classe, raça, cor, religião, riqueza ou pobreza.


Em todo caso, tanto o discurso populista do presidente quanto a imaginação dos analistas de plantão, que certamente confundem a categoria povo com indivíduos da classe mais baixa, esbarra num fato bastante singelo: somente na quarta tentativa o eterno candidato do PT logrou se eleger. Nas três campanhas anteriores, nas quais o discurso do petista causava medo aos grandes empresários, banqueiros e investidores, a maioria dos brasileiros também não se identificava com a retórica esquerdista e se recusou a por Lula lá por mais carismático e persuasivo que agora dizem ele ser. O eterno candidato do PT conseguia sempre 30% dos votos, porcentagem que englobava, menos seus ex-companheiros de macacão, e mais setores da classe média composta por professores e alunos universitários, a Igreja dita progressista, profissionais liberais, funcionários públicos, artistas, enfim, os grupos para os quais é politicamente correto ser de esquerda.


Somente na quarta campanha, Duda Mendonça, o marqueteiro oficial, operou prodígios. Ele vestiu o Lulinha de paz e amor com terno Armani, lhe ensinou a adoçar um pouco a voz e a moderar o discurso, sendo que a Carta ao Povo tranqüilizou o grande capital com a promessa de que nada mudaria. Só então a candidatura petista deslanchou.


Acrescente-se que o vice, José de Alencar, foi a garantia de que estava selada a união simbólica entre capital e trabalho, e na esteira daquele empresário vieram as Igrejas Evangélicas, notadamente a Igreja Universal, que somaram sua fé e força à CNBB em prol do candidato do PT. Quanto às FFAA, numa espécie de 64 às avessas, prestigiaram em grande parte com seu voto o candidato da esquerda movidos pela insatisfação com o governo anterior. Assim foi eleito Luiz Inácio com o apoio de gregos, troianos e baianos, sendo que uma parte respeitável destes não tinha cara de pobre nem de desvalido, muito pelo contrário.


Outra teorização interessante que vem surgindo é a seguinte: "Luiz Inácio vai ganhar porque o povo não se incomoda com corrupção". Isso significa que estamos está mais para plebe, termo que expressa o sentido pejorativo de povo. Seríamos uma nação de corruptos, uma cleptocracia onde, como se costuma dizer, "quem não rouba é burro". Aqui vigora a esperteza. A palavra de ordem é passar o outro para trás, é levar vantagem em tudo, é cultuar anti-heróis e antivalores.


Convenhamos que existe um quê de verdade nessa explicação. Ela é comprovada pela mentalidade do "rouba, mas faz" que consagrou Adhemar de Barros. Golpes pequenos ou grandes acontecem rotineiramente na vida particular e na esfera pública, e estamos longe de ser uma meritocracia. Para agravar a situação no Brasil reina a mais perfeita impunidade, pois o que se pode esperar da aplicação justa da Lei quando o próprio presidente do Supremo Tribunal Federal julga com base em sua inclinação política do momento e não conforme a imparcialidade jurídica que o seu alto cargo requer?


Contudo, o "rouba, mas faz" não funcionou, pelo menos no caso do PT, quando muitos dos seus quadros foram eleitos nos níveis municipal e estadual, e mesmo quando o partido alcançou a presidência da República. Isso porque, a lendária retórica petista baseada na ostentação de serem eles éticos e puros, angariou votos dos eleitores que sentiam um grande cansaço cívico por conta do comportamento indesejável de vários integrantes da classe política, no Legislativo e no Executivo. Além do mais, quando os trabalhos das CPIs estavam no auge, pesquisas acusaram forte queda da popularidade do presidente Luiz Inácio e do seu governo.


Agora é esperar outubro para saber se o povo brasileiro se indigna com a corrupção ou se lhe é indiferente na medida em que também a pratica largamente. Essa atitude irá indicar se somos povo ou plebe. De todo modo, outros fatores irão interferir no sucesso ou não do candidato-presidente. Por enquanto existem apenas especulações.

Maria Lucia Victor Barbosa, socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br


Autor: Rogério Amaral Silva
Fonte: http://www.ternuma.com.br/mlucia65.htm
http://www.veritatis.com.br/article/3524

domingo, abril 24, 2005

Anti-comunista

Esquerda e direita na Igreja
por Olavo de Carvalho em 23 de abril de 2005

Resumo: As questões religiosas são terreno fértil para a mídia brasileira manipular ideologicamente o público. O uso que ela faz dos termos para descrever situações e personagens não corresponde nunca à realidade objetiva, mas a um enfoque pré-calculado para produzir determinadas reações.

© 2005 MidiaSemMascara.org



Já faz tempo que a grande mídia no Brasil – refiro-me sobretudo à de São Paulo, Brasília e Rio -- deixou de ser meio de informação confiável e se tornou puro instrumento de manipulação ideológica. O uso que ela faz dos termos para descrever situações e personagens não corresponde nunca à realidade objetiva, mas a um enfoque pré-calculado para produzir determinadas reações públicas. A linguagem-padrão do jornalismo brasileiro segue hoje estritamente a técnica soviética da desinformação. Isto não é modo de dizer, mas uma descrição exata do que acontece.

No caso das questões religiosas, a prova mais clara disso é o progressivo deslocamento do sentido dado aos rótulos "conservador" e "fundamentalista". No começo, “conservadores” eram os católicos que se opunham às mudanças introduzidas pelo Concílio Vaticano II. Muitos deles foram expulsos da Igreja, como dom Marcel Lefebvre, e hoje constituem um movimento religioso independente, de enormes proporções, cuja existência a mídia jamais menciona. Amputada essa parcela da realidade, o rótulo de “conservadora” passa a ser aplicado à própria ala da hierarquia católica que implementou as mudanças do Concílio. A margem de conservadorismo admitido, portanto, diminuiu consideravelmente. Antes, homens como João Paulo II ou o então cardeal Ratzinger eram o centro, o fiel da balança. Depois a mídia os deslocou para a direita e até para a extrema-direita enquanto dava sumiço nos conservadores genuínos, transformados em “não-pessoas”, sem direito a voz ou presença pública.

Processo análogo sofre o termo "fundamentalista". Essa palavra designava os adeptos de uma interpretação literalista e legalista da Bíblia. Pouco a pouco, a classe jornalística passou a empregá-lo para rotular qualquer pessoa que seja fiel a uma religião tradicional. Isto significa que a quota de fidelidade religiosa admitida na sociedade “decente” vai se estreitando cada vez mais. É um estrangulamento progressivo, lento e calculado.

Outro exemplo. Até dez anos atrás, todo mundo na Igreja – esquerda e direita -- era contra o aborto. Em 1991 os bispos de Chiapas, México, que estavam entre os mais esquerdistas da América Latina, acusaram de auto-excomunhão as militantes feministas que defendiam o aborto. Hoje, a mídia em peso carimba como “conservador” e até “fundamentalista” qualquer católico que seja anti-abortista.

Tudo isso é manipulação cínica, voluntária e consciente. Quem molda a linguagem popular domina a alma do povo. O uso de categorias políticas para descrever as facções da Igreja não é errado em si, pois o clero é composto de seres humanos, e seres humanos têm o direito e a inclinação de se alinhar politicamente. Mas essas categorias devem ser usadas honestamente como termos descritivos apropriados à realidade objetiva, não como instrumentos de manipulação destinados a criar uma falsa realidade politicamente conveniente a determinada facção. A mídia tem inclusive o direito de acompanhar as mutações semânticas quando vêm de fora, mas não o de produzi-las por iniciativa própria, moldando os acontecimentos em vez de descrevê-los.

Em cada grande redação do país existe hoje um forte grupo de iluminados que se autoconstituem donos do pensamento geral. Confrontados com um padrão normal de honestidade intelectual e jornalística, são na verdade criminosos, estelionatários. Um dos mais notáveis mentores intelectuais da esquerda mundial, o filósofo americano Richard Rorty, teve até o cinismo de enunciar a regra que orienta essa gente: não devemos – dizia ele -- tentar convencer as pessoas expondo nossa convicção com franqueza, mas ao contrário, “inculcar nelas gradualmente os nossos modos de falar”. É o maquiavelismo lingüístico em estado puro.

João Paulo II e Bento XVI nunca estiveram efetivamente entre os conservadores. Foram transformados nisso por essa obra de engenharia verbal que, deslocando o eixo da linguagem cada vez mais para a esquerda, deforma as proporções da realidade para ludibriar a opinião pública. Complementarmente, essa manobra impõe o estereótipo de que os conservadores são a classe repressora e os progressistas são os coitadinhos oprimidos e perseguidos. Na verdade, jamais algum esquerdista da Igreja sofreu um milésimo das punições impostas à ala conservadora de dom Lefebvre. Os verdadeiros perseguidos da Igreja nunca são mencionados na mídia, embora constituam em certos países da Europa quase um terço da população fiel. No Brasil, os bispos de Campos foram humilhados, censurados e por fim excomungados sem ter feito mal algum. Leonardo Boff ou Gustavo Gutierrez, ao contrário, nunca sofreram punição nenhuma, apenas o período de silêncio obsequioso por alguns meses, e até hoje vivem da propaganda lacrimosa postiça que os mostra como verdadeiros mártires. Toda a grande mídia é cúmplice dessa mentira. O jornalismo no Brasil tornou-se uma forma de alucinação proposital.

Do mesmo modo, o chavão que divide a Igreja em “Igreja dos ricos” e “Igreja dos pobres”, que inicialmente aparecia só na propaganda comunista explícita, foi absorvido pela mídia e tornou-se de uso geral. A Igreja – toda a Igreja – sempre trabalhou pelos pobres. A ela devem-se a invenção dos hospitais, das maternidades, o ensino universal gratuito, a progressiva abolição da escravatura, etc. A “teologia da libertação”, que se auto-embeleza com o título de “Igreja dos pobres”, nada fez pelo povo pobre além de usá-lo como massa de manobra ou bucha de canhão, como o faz na Colômbia e em Cuba. A adoção daqueles estereótipos pela mídia é uma brutal inversão da realidade. Por outro lado, é a ala esquerda da Igreja – e não os conservadores ou mesmo os centristas -- que hoje nada em dinheiro de George Soros, da ONU, da Unesco, das Fundações Ford e Rockefeller, e até de organizações abortistas como a Planned Parenthood Foundation e a Sunnen Foundation. Bela “Igreja dos pobres”, essa!


Olavo de Carvalho é jornalista, escritor e filósofo.

www.olavodecarvalho.org


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